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terça-feira, 24 de abril de 2018

Lamentações


E na escuridão eterna, vejo-me relembrando sem cores cenas de um passado recente, sem glamour, sem grandes feitos. Aos que choram ainda minha partida, um mixto de decepção, amargura, amor e até de alívio. 
Vivemos a vida crendo em pseudo-amizades, laços fajutos de amor fraternal e familiar, mas quão dolorosa a decepção que vislumbramos fora da condição material. Ao invés de paz, como sempre ouvimos falar, muito me corrói a alma os pensamentos, os quais não controlo, de meus queridos, de antigos desafetos, de afetos falseados em sorrisos irônicos. Como prosseguir com essa dor? Nada antes me fazia tão mal, pois dor era dor e nada mais, localizada, motivada por qualquer que fosse o acidente. Essa dor se faz de algoz na minha existência, me leva daqui para acolá sem me dizer o destino. A cada sentimento um ardor que toma todo meu ser, como se mal súbito tivesse. A cada piscar de olhos me sinto arrastado para locais os mais diversos, como castigo de uma infelicidade vivida plenamente na carne. Mesmo quando na presença daqueles que deram muito amor, a dor não cessa, pois desta vez por lembrar-me de minhas fraquezas, de minha arrogância, de quantas vezes magoei, quantas vezes feri. 
Diante de mim um futuro incerto, sem casa, sem moral, sem amores, nada além de dor e escuridão. Será um teste? Algo para comprovar quão insano somos nas batalhas da vida? Ou apenas castigo, o famoso inferno que tanto me falavam e fui debochado e sem sensibilidade?
As forças começam a esvair-se, a fome toma-me as razões. Mas se estou morto como ainda sinto fome? Hipócritas! Todos aqueles que nos ensinaram sobre o tal paraíso, o descanso eterno. Já nem sinto minhas faculdades mais automatizadas como urinar, quando percebo já estou todo enlameado de fezes e urina. Sem vida, sem esperança, sem um foco, sigo flagelado em minhas próprias mazelas, meu luto pessoal e convicto de que deva merecer tudo isso, jamais desejaria ao meu pior desafeto. Hoje chego a ti como flagelo que não mais pertence a este mundo, sequer sei como aqui cheguei, mas ditar-lhe minhas angústias me aliviou um pouco a alma. Perdoe-me se passo involuntariamente minhas angústias a todos vocês, não controlo nem explico tal situação. Se me permite a audácia, rogo por orações as quais nem sei se servem para cá, mas não mais tenho forças de prosseguir assim. 


(Um espírito doente)

domingo, 22 de abril de 2018

Verdades


Achar não é conhecimento, é uma forma de  expressar-se como parte social. Não ofusqueis vossos corações com achismos, pois quem em sã consciência diz saber a vontade de teu Pai?
Nada daquilo que podeis conceber como amor chega próximo da real essência criacional. Colocam em tom de sabedoria palavras escritas não a todos, mas aqueles que poderão ver a luz. Ai daquele que se manifesta conhecedor da palavra do Senhor, pois perecerão em angústias eternas de ignorância. Aos crédulos e sensatos, aguarda pois o anúncio de teu Pai, nada foge ao santo controle Dele. Vivam em plenitude de fé, orando e vigiando vossos pensamentos, mas jamais sendo alvo de adoração por qualquer ser da criação. Se acaso isto ocorrer, parem imediatamente! Estás no caminho da perdição. Propagai a esperança, espalheis o amor incondicional, sede a semente sem jamais achar-se o fazendeiro. Voa longe para que se multiplique e dê muitos frutos, mas aguarda o fazendeiro a regar-te a raiz e as folhas, acaso pode uma planta crescer e multiplicar-se sozinha sem a água que vem do céu? Ou a água vinda do fazendeiro que com amor fomenta o crescimento e a descendência? Achismos já perderam a humanidade de outros tempos, verdades pessoais em detrimento à vontade do Senhor teu Deus já ceifaram muitas vidas inocentes. Ide e segue o caminho da paz e da serenidade, aguarda Nele e Ele estará em ti. Do homem nada espera, ao contrário fazei com que encontrem a paz em Cristo, não com achismos, mas com esperança, com fé e paciência aguardando a volta do Senhor a retomar seu trono na Terra.


terça-feira, 17 de abril de 2018

O Conto de um Incrédulo



A todo aquele que crê resplandece em luz o espírito, pois não teme nada que venha deste mundo. Ao incauto e sem fé, fica a insanidade da dúvida existencial de uma amarga jornada sem propósito, sem motivação ou objetivos que ultrapassem o ato de respirar. Ir além daquilo se lhe propõe a mente limitada, esse anseio fere em ansiedade o espírito humano preso à carne. Diálogos, citações, palavras intermináveis cheias de certezas incertas, pois é com propriedade que lhes digo nada que seus olhos podeis alcançar irá saciar essa vontade insana em aprender sobre o infinito, ininteligível porque somos criatura e jamais nos tornaremos criadores. E quando em orgulho e vaidade nos perdemos achando que ultrapassamos mais uma barreira do conhecimento, vem a grandiosidade do Senhor a nos mostrar que nada estava encoberto, se vimos é pura permissão e misericórdia Dele. 
Caminhamos sempre tão deslumbrados com nossos cérebros que esquecemos que nossa inteligência não está nele, que nossa consciência também não. E quando a morte vem sorrateira a nos tirar desse sonho "lindo", onde tudo podemos e ninguém tem nada haver com isso, nos vimos em completo desespero, pois de nada serviu tanta leitura, tantos diplomas, tantos aplausos em citações públicas. O ensurdecedor silêncio da eternidade ecoa em nossos corações mais que nossos ouvidos, não há quem se digne a dirigir uma palavra indicando o caminho, não ninguém que o dinheiro ora tão útil, possa pagar para nos aliviar o sofrimento. Com muita sorte conseguimos nos libertar de nosso anfitrião sem alma que nos conduz a qualquer lugar, a qualquer tempo, daí permanecemos neste mundo tão cheio e ao mesmo tempo tão solitários. Ninguém nos ouve e ao mesmo tempo todos nos sentem, de nada adianta. De tempos em tempos somos como que sugados a um nada tenebroso, escuro e sombrio, onde o grito desesperado de dor de desconhecidos quebra o silêncio ora tão odiado. Mas porque? Errei mas nem tanto, porque tanta solidão e perdição? Como podemos conceber situação tão injusta se entre renegados e desgraçados, assassinos e estupradores me senti até um santo? 
Eis o engano de meu espírito egoísta e sem perspectiva moral. Onde vi bondade havia orgulho, onde vi entrega havia interesse, onde vi esmola havia vaidade, nada era verdadeiro menos ainda puro. Por mais que esforçasse ficava tudo cada vez mais claro em minha mente espiritual. Com o passar dos incontáveis anos na erraticidade, ia me dando conta de quanta ignorância foi regada minha jornada terrena. Percebi lenta e dolorosamente todos aqueles que prejudiquei com minhas palavras ou atitudes, todas as famílias que destruí para que subisse ainda mais em minha vida profissional.
E quando já conformado em minha escuridão interior e exterior, eis que me aparece um raio luminoso ao longe, tal qual aurora em uma praia aberta. Mesmo sem compreender caminhei sem rumo ou esperança até aquele sol desconforme leis físicas que havia conhecido, e quanto mais me aproximava me sentia mais leve, porém com uma profunda vontade cair em prantos. Logo não me contive, corria em pranto desesperado de culpa agoniante até aquele sol que se desenhava em forma humana quanto mais me aproximava. A uma distância relativamente próxima me detive em espanto e admiração, pois via diante de mim aquela santinha tal qual vi toda minha infância na cabeceira de minha mãe, mas esta bem viva e sorridente, de um sorriso amoroso e caloroso, como se me conhecesse. 
Disse-me ela, "Vem a mim pequenino, te aguardei ansiosamente". Em prantos tal criança se consolando em seio materno corri aos seus braços, sem me manter sequer de pé, agarrado em seu vestido longo e azul cheirando a rosas as quais nunca tinha sentido aroma, mas era delicado e acalentador, o suave perfume que exalava suas mãos era como se numa virgem floresta estivesse, o cheiro da natureza mais pura e intocada por mãos humanas. 
Carinhosamente ela me levantou e me conduziu ao seu lado. diversas outras criaturas aladas em forma humana nos aguardavam como que nos protegendo da escuridão daquele lugar. Foi quando relaxei e pisquei mais lentamente os olhos e abrindo me vi em um campo muito verde e florido, cheio de pessoas conversando alegremente. Uma dessas pessoas se dirigiu a mim com surpresa como se a mim aguardasse. Me envolvendo em seus braços tal enfermeiro a receber um doente me conduziu a uma belíssima cabana de madeira, lá fiquei deitado e inconsciente por muitos meses, mas dessa vez em júbilo de alívio, meus sonhos naquele momento retratavam sim os bons momentos vividos na terra, as boas pessoas que cruzaram minha vida e percebi durante aquele obrigatório e profundo coma de amor, quão ínfimo eu era diante da mão amorosa que conduziu e desenhou meu caminho com zelo e cuidado. Me senti verdadeiramente filho de alguém, amado por todos e ansioso por auxiliar os que ainda não viam.


Carlos Pimentel (Autor Espiritual)
Por Boanerges Teixeira de Almeida (Médium e Instrutor Espiritual)
Sacerdote de Umbanda