Visite-nos

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Meus olhos em outros olhos

Ir além daquilo que almejamos, caminhar mais calmamente observando a nossa volta. Idas e vindas não nos convencem, precisamos sempre do mostrar-se para que nossas palavras ecoem por entre os nossos. Lamentos e choros não mais submergem-se em lágrimas, ao contrário, no sorriso cínico e na indireta maliciosa nos vemos felicitados por prazeres mesquinhos. Um sorriso, um beijo, um carinho em um estranho, isso tudo demonstra o tamanho da tua tristeza, quando mostra com os olhos o que sente o coração. Vai além, busca na ternura alheia a atenção egoísta à tua presença, não vale o sentir, o merecer, o estar com alguém, mais vale a sensação de ser notado. E na escuridão da tua solidão, sente presente a brisa do amor divino, indescritível, inegável misericórdia para aquela tua ânsia em ser mais que alguém. Fecham-se os olhos, novamente a escuridão, o coração aflito pelo porvir, demente e doente, sua mente devaneia sobre os mistérios da criação. Eis que aquela brisa de outrora, te cerca como um abraço, na escuridão de teus olhos fechados vê um imenso, um enorme formigueiro. O que significa, o que esse vento maravilhoso quer me dizer? E no meio de tantas formigas pequeninas, reconhece uma, intranquila, irriquieta, franzina porém imperiosa, todas trabalham incansavelmente, mas aquela formiguinha insiste em perturbar a harmonia, em desfazer o perfeito, em irritar o caloroso funcionar de seus pares. Estranho, sinto-me tão parecido com esta formiguinha, porque brisa querida a me abraçar? Sopro suave sente em seus ouvidos, uma aliviante sensação de resposta, não só a ínfima pergunta, mas parece uma resposta para toda uma existência. A escuridão dos olhos fechados vai desaparecendo, o formigueiro vai sumindo esfumaçado, mas a brisa permanece lá, uma luz radiante encandeia o impossível, não dá para fechar os olhos, pois já estão. Da luz forma-se uma flor, que se distingue de qualquer outra que já tenha visto, beleza incalculável diante da miserável figura personificada humana na minha história. A formiguinha, era eu, a flor era meu Pai a me dizer "Estou contigo, vamos mudar?". Abrem-se os olhos, percebe-se que o que passou não pode ser mudado, mas um alívio no peito demonstra o início de um novo começo, uma nova história a ser escrita sobre as linhas do amor de Deus.

Ricardo Passos de Alencar
Pelo Médium e Sacerdote de Umbanda
Pai Boanerges de Ogum


Nenhum comentário:

Postar um comentário